A gente acha que tá só fazendo o tempo passar.
Uma rolada de tela aqui, outra ali. Um vídeo, uma notificação, um tweet…
Você nem nota, mas seus dedos sabem: já virou hábito. E eles deslizam sem você mandar. E a mente acompanha.
No início, parece inocente. Uma pausa rápida entre tarefas. Uma distração antes de dormir. Mas, quando você se dá conta, o tempo escorreu pelos dedos — e nada do que importa de verdade foi feito ou aconteceu.
Você não escreveu aquela mensagem;
Não leu com calma - e nem fixou nada na memória;
Não criou;
Não ouviu com atenção quem dividia o mesmo espaço que você;
Não teve um momento real de tédio — aquele que pode até ser fértil, se a gente deixa ele existir.
Você não estava lá.
O scroll virou o novo tic-tac do relógio.
Cada deslizada, uma falsa sensação de presença.
Cada nova aba, uma tentativa de controle do assunto, do tempo, do tédio, da ansiedade.
Mas não é controle, é fuga.
Fugimos da pausa. Fugimos da lentidão.
Fugimos do agora, do tempo ocioso.
Talvez a gente faça isso porque o agora assusta.
Ele exige presença. E presença exige entrega.
E entrega exige… parar.
Parar pra escutar o que está dentro, e nem sempre a gente quer ouvir.
Você já reparou que quando está realmente presente, o tempo flui?
Só existe o instante.
Só existe você: inteira no que faz, no que sente, no que vê.
Mas quando a gente vive no tempo do scroll, tudo se desfaz.
O presente é interrompido.
A memória não grava.
A experiência não aprofunda.
Não se cria conexão.
E aí a vida começa a parecer rasa, sendo vivida na superfície.
O scroll é a prisão mais sutil do nosso tempo.
Você nem percebe que está nela, porque parece uma escolha natural. Mas, na prática, é resposta automática a superficialidade de muito do que vivemos.
Quanto da sua vida você tem deixado passar sem estar inteiro nela?
Só tente se lembrar que dá pra mudar isso:
Fechar a aba;
Bloquear a tela;
Deixar o silêncio voltar;
Respirar fundo;
E se perguntar, sem medo:
O que esse momento, o agora, está me pedindo?
O agora é o único lugar onde a vida acontece.
O resto é só dedo cansado, olho seco e cabeça cheia de nada.