O que o mundo pode perder se você não continuar?
não precisa estar tudo bem pra você fazer algo por você — e pelo mundo.
Aos 16 anos, ele perdeu a mãe.
Dois anos depois, o pai foi assassinado, provavelmente por seus próprios empregados.
Escapou de uma forca e foi condenado a trabalhos forçados na Sibéria (!) por questões políticas.
Tinha crises frequentes de epilepsia. Afundou em dívidas por causa do jogo.
No mesmo ano, perdeu a esposa e o irmão, e com isso herdou mais uma montanha de contas.
Perdeu também uma filha, ainda bebê.
Não, essa não é uma história de algum livro de ficção. Essa foi a vida de Dostoiévski.
Mesmo com todos esses acontecimentos, Dostoiévski escreveu obras que até hoje estão entre as mais importantes da literatura mundial. Obras que falam sobre miséria, fé, desespero, culpa, redenção… tudo aquilo que ele não leu em lugar nenhum, mas viveu.
E ele não foi o único.
—> Charlotte Brontë ficou órfã de mãe ainda criança.
Perdeu duas irmãs para a tuberculose.
Conviveu com um pai rígido e um irmão alcoólatra.
Mesmo assim, escreveu Jane Eyre, um romance tão moderno em suas entrelinhas que até hoje inspira mulheres no mundo todo.
—> Beethoven teve uma infância marcada por um pai violento e alcoólatra. Começou a perder a audição com 26 anos e ficou completamente surdo mais tarde. Mesmo assim, compôs algumas das obras mais influentes da música clássica, incluindo a Nona Sinfonia, escrita já em completa surdez.
—> Edith Eger (sou apaixonada por “A bailarina de Auschwitz”), foi deportada aos 16 anos para Auschwitz. Sobreviveu ao campo de concentração, mas perdeu os pais na câmara de gás. Anos depois (muitos anos depois), conseguiu transformar seu sofrimento em utilidade: tornou-se psicóloga clínica, referência em trauma e resiliência.
O que essas pessoas tem em comum? Todos criaram, apesar de suas condições. Todos continuaram.
Você já parou pra pensar que talvez a gente exija condições demais pra agir?
Não falo de negligenciar o cansaço, nem de ignorar a realidade, porque isso realmente pesa. Mas talvez a gente tenha comprado uma ideia equivocada de que só dá pra construir algo significativo depois que tudo se acalmar.
Depois que a vida der uma trégua;
Depois que o tempo surgir;
Depois que a mente clarear;
Depois que o medo passar.
Mas a vida — e as biografias — mostram o contrário.
Foi no meio da dor, da escassez, da dúvida, que essas pessoas se moveram.
Elas tinham algo dentro delas que, se não fosse dito, pesaria ainda mais.
Criar, agir, escrever, fazer, não foi uma fuga, e sim uma resposta.
Uma resposta carregada de vida. Um gesto de resistência ao colapso interno, quando eles nem imaginavam que teriam tanto pra dar.
Talvez, se elas não tivessem feito, entrado em ação e buscado continuar, teriam sucumbido.
Talvez a inércia as teria engolido e o silêncio teria vencido. Imagina só o que o mundo perderia sem conhecer…
Quantas histórias teriam deixado de existir?
Quantas sinfonias, livros, ideias, quadros, movimentos...
Quantos aprendizados que só chegaram até nós porque alguém, mesmo sem chão, escolheu continuar.
A gente fala muito sobre o resultado, mas pouco se fala sobre o processo.
A jornada para criar essas obras foi, provavelmente, cheia de dias ruins.
De pensamentos repetitivos, de páginas amassadas, ideias rasgadas, muito cansaço. De medo. De solidão.
Mas o processo também pode ter sido o que as manteve em pé.
O fazer como forma de sustentar a própria existência.
O movimento como forma de organizar a mente.
A construção de algo como um lugar seguro, mesmo que fosse só por algumas horas por dia.
É possível que o trabalho tenha curado antes mesmo de ser reconhecido como obra.
Que escrever tenha sido, para Dostoiévski, uma forma de não adoecer ainda mais;
Que pintar tenha salvado a sanidade de Van Gogh;
Que compartilhar o que viveu tenha dado sentido à sobrevivência de Edith Eger.
Não foi somente o fato de produzir, foi também uma forma de não se perderem.
Podemos transformar a dor em ação, o caos em palavra.
A tristeza em trilha e o vazio em significado.
É fácil? Com certeza não. Mas se entregar não deve ser uma opção.
E aí fica a pergunta:
O que o mundo — e você mesmo — pode perder se continuar esperando o momento ideal pra fazer?
Talvez o que te salva não seja o que você vai conquistar, mas o que você decide construir enquanto caminha.
Não espere estar bem. Comece apesar de não estar pronta.