Como poderia crescer na vida e viver através da sua escrita?
Era isso que Zeca pensava, sentado em seu pequeno escritório, montado com capricho quando se mudou para aquele apartamento. Era seu canto.
Lá, Zeca passava a maior parte do seu dia entre rascunhos, cadernos, livros, xícaras de café e anotações.
Aquela mesa repleta de canetas, lápis, borracha, marca-texto, blocos e mais blocos de anotações, folhas, notebook… era pequena, mas Zeca conseguia juntar todos os seus instrumentos cirúrgicos para operar um bom manuscrito.
Ele gostava de escrever com a janela à vista. A claridade e a paisagem para as montanhas davam a sensação de abrir caminho para as ideias surgirem nos seus rascunhos. Aquele ambiente era realmente o cenário que ele sempre quis para trabalhar e criar.
A parede era rodeada por estantes lotadas de livros. Tinha de todos os tipos, mas ficção era a maior parte deles. Os técnicos tinham seu lugar, e sempre eram consultados quando estava em meio a uma boa escrita.
Foram anos trancado naquele escritório. Muitos papeis destacados, muitos manuscritos jogados no lixo, calo nos dedos, histórias sem fim, fins sem início, textos sem títulos… e quando a mente estava cansada e a irritação parecia não dar trégua, ele olhava aquele porta-retrato na estante e respirava fundo. Esse era seu ponto de equilíbrio entre o cansaço e a irritação da mente. Aquela foto trazia lembranças e sensações que o faziam manter a sanidade.
Um dia, uma mensagem chegou. Era uma editora. Uma menor, das que apostam em vozes estranhas e promissoras. Tinham lido um conto que ele postou num fórum obscuro de literatura. Queriam mais. Queriam saber se ele tinha algo maior. Algo pronto.
Ele não respondeu de imediato. Olhou ao redor. A pilha de folhas, os cadernos, as ideias soltas em cada marca-texto… tinha sim.
Nos dias que se seguiram, não escreveu nenhuma linha nova. Em vez disso, reuniu tudo o que já tinha. Cortou, colou, costurou, reconstruiu. Montou. E percebeu que aquilo, todo aquele caos, já era o seu livro. Só precisava confiar.
E aconteceu. Daquele escritório apertado e repleto de itens que o ajudaram a criar seu caminho, seu livro foi lançado.
Ele ainda não acreditava quando olhava pra a estante abarrotada de livros e via agora uma prateleira cheia do seu próprio exemplar.
Em meio a eles, não podia faltar aquela foto, a responsável por não o deixar desistir. Então fez algo que não fazia há tempos: escreveu uma carta.
Papel timbrado, envelope, selo e tudo.
Endereçada a ela — a dona do sorriso emoldurado que seguia ali, na estante, testemunha de todas as tentativas.
A carta dizia:
"Você não leu nada do que escrevi.
Mas foi quem me ensinou a não parar de escrever."
Mais uma vez olhou para ela, em seguida para as montanhas distantes na janela, e respirou fundo: “consegui. E essa vitória é nossa.”
Tomou mais um gole de seu café e fechou as janelas. A chuva estava a caminho.
Excelente! Adorei!