O menino corre com a camiseta encharcada, todo sujo de terra, com o joelho ralado e um sorriso no rosto.
O olhar buscando o avô, querendo exibir seu próximo chute infalível:
“Vô, olha esse agora!” — grita, empolgado.
O avô ri da escorregada na grama. “Vai devagar, muleque!” — finge bronca. A bola voa pro mato. Os dois vão juntos buscar.
Ali, no quintal, sob o sol das 10 da manhã, eles repetiam um ritual que o avô se recorda de quando era criança. Brincar de bola era o que mais gostava de fazer.
Mas na época dele, brincar era só quando sobrava tempo — e ele sempre dava um jeito.
As regras eram duras. Os adultos eram ríspidos e as obrigações eram muitas.
Faltava espaço para rir sem culpa e tempo a toa pra brincar. Mas ele não ligava, sabia que a vida era assim e levava como natural.
Precisou ser responsável desde cedo, e criar suas próprias formas de se virar pra conquistar o que quisesse: fosse um brinquedo novo, uma roupa, um doce e até mesmo um dinheirinho pra se manter.
Agora, sentado no banquinho de cimento, ele só observava o neto brincado.
“É leve, né?” — pensou.
E naquele instante, entendeu:
Talvez seu papel hoje não seja ensinar, mas permitir.
Permitir que a leveza que não viveu exista ali, diante dele.
Sem pressa, sem pressão. Só viver e sentir.
E um amor que repara, e o faz perceber que agora pode descansar, ser leve e curtir as coisas simples da vida.