Estava chovendo lá fora. Ela entrou chacoalhando o guarda-chuva para nao molhar o local. Estava bem agasalhada, de botas e um sobretudo.
Se sentia bonita, elegante. Enquanto abria o sobretudo pensou com ela mesma: “e não é que roupa de frio deixa a gente mais arrumada?”.
Pediu o de sempre. Sem açúcar.
Sentou na mesa do canto. Aquela com visão privilegiada da rua e das pessoas apressadas.
Celular na mesa, mas virado pra baixo. Sem interrupções e sem pressa.
Ao lado, duas senhoras falavam sobre o aniversário do neto.
Na mesa da frente, uma mulher escrevia em um caderno. Devia ser poesia ou lista de compras — quem sabe?
E ali, no silêncio entre um gole e outro, ela se deu conta de algo raro: estava bem. Se sentia bem.
Sem grandes acontecimentos, sem plot twist.
Só o café quente e a liberdade de não precisar ser ninguém por alguns minutos.
Ninguém te espera. Ninguém cobra. Ninguém te chama.
Talvez seja isso que chamam de paz.
E então, quando terminou, olhou em volta mais uma vez.
Deu um leve sorriso — desses que ninguém percebe.
Pegou seu guarda-chuva, fechou o sobretudo, e voltou pra vida real.
Um pouco mais inteira do que antes.