Eram 23:30 e as ideias borbulhavam. Não teria como conseguir dormir com tantas ideias na cabeça.
Tina teve um dia arrastado, imprevistos e pequenos problemas que se desenrolaram por longas horas. Foi aquele dia cinzento, em que nada rende, onde só se apaga incêndios. E o que mais ela queria ter feito, ficou para depois.
Ao chegar em casa, sentiu o alívio imediato de tirar os sapatos que apertavam os dedos. Pendurou a chave do carro e, mesmo cansada, não se deu ao luxo de desmoronar no sofá. Foi direto para o que sabia que a ajudaria a relaxar. Era lá, sentindo a água quente cair no seu corpo onde recarregava as energias.
Acendeu sua vela preferida e apagou a luz. A chama era suficiente para clarear o ambiente. Não queria que nada interferisse, nem a luz. A espuma do sabonete branco como o leite era macia e envolvia seu corpo, como um abraço, e era exatamente essa sensação que ela procurava.
Por um instante percebeu a leveza tomar conta, e o peso do dia escorria pelo ralo com a água. Sentia o sono chegando, o corpo amolecendo.
Prestes a desligar o chuveiro daquela ducha pesada e escaldante, um feixe de luz atravessou a janela, já embaçada pelo vapor. A claridade trouxe à tona aquelas ideias que estavam borbulhando assim que chegara em casa. Tentou como pôde para fazer com que elas não se concretizassem, e ficassem ali adormecidas, pelo menos até abrir os olhos na manhã seguinte.
Se enrolou na toalha felpuda branca, enxugou lentamente seu corpo enquanto focava o pensamento em sua cama cheirosa e sua coberta de lã. Lá fora a chuva caia, batia no vidro da janela do seu quarto, e o som que escutava tinha o efeito de uma canção de ninar.
A claridade dos raios invadia o ambiente. Nem era preciso mais da vela; apagou a chama.
Não olhou o relógio, já sabia que era tarde demais. Puxou a coberta e se acomodou. Esticou todo o corpo e deu um suspiro profundo.
Enquanto os trovões ecoavam ao longe, pensou: Nem todos os dias são brilhantes, mas até os dias mais cinzentos têm o seu fim.
E com esse pensamento, deixou o sono finalmente vencer.
Cenas Aleatórias é uma sessão onde compartilho pequenas histórias ou diálogos que escrevo em momentos aleatórios. Sem personagens definidos nem enredos planejados — apenas a liberdade de preencher uma folha sem regras nem motivo específico.
Aqui, você está conhecendo aquela parte do meu cérebro que atua obedecendo o fluxo das ideias, captando o que surge quando não há compromisso com o resultado, apenas com a vontade de criar e de dar vida a uma folha em branco.
Inscreva-se no EntreLinhas
Um pouco dos assuntos e pensamentos que se passam nessa caixola, sob a perspectiva de uma escritora muito boa em aleatoriedade.