Todos os dias, ao cair da noite, a mãe e o filho deitavam no chão da varanda para contemplar o céu. Ele queria ver a lua, que nem sempre calhava de aparecer naquela direção. Enquanto ela só queria alguns minutinhos ali com o seu pequeno, curtir o cheirinho daquela cabecinha e a maciez dos cabelos recém-lavados.
Estar ali era criar memórias, um momento simples que pode ser sempre lembrado com o simples ato de se olhar pro céu à noite.
A varanda era rodeada por vidros, o que ajudava a ter uma vista ampla para o céu. Dava pra admirar a escuridão até se perder na contagem das estrelas. Era um ritual deles, que permaneceu por algum tempo.
Começou com o menino ainda bebê, no carrinho inclinado para ver o céu. Depois que começou a engatinhar, ficou um pouco mais difícil ficar ali por mais de 1 minuto. Com o tempo, ele foi recordando daquele momento e se deixava aconchegar ao lado da mãe, que lá já estava deitada olhando as estrelas, esperando ele chegar. Ela sabia que ele viria deitar ao seu lado, era só esperar um pouquinho. Ele chegava, e buscava a lua.
Já não havia ali naquela varanda a mesa alta com as banquetas, onde ela e o marido tomavam uma bebida e comiam uns aperitivos com os amigos. O armário com copos e taças permanecia ali, junto a churrasqueira elétrica que passou a ser somente um item de decoração. Isso tudo deu lugar a um tapete emborrachado e mil brinquedos espalhados por ali.
Aquele charme boêmio não existia mais, já não recebia mais os amigos à noite e ficavam até altas horas jogando papo pro ar. Agora dormiam mais cedo e bebiam bem menos, tudo para garantir uma boa noite de sono — que quase nunca mais era contínua.
E foi assim que as noites na varanda passaram a ser. Ela não perdeu seu encanto, ela ganhou um novo significado. A mãe já sabe que esses momentos podem acabar logo mais. Mas, as lembranças que criaram ali serão permanentes em suas memórias.
Cenas Aleatórias é uma sessão onde compartilho pequenas histórias ou diálogos que escrevo em momentos aleatórios. Sem personagens definidos nem enredos planejados — apenas a liberdade de preencher a folha em branco sem regras nem motivo específico.
Aqui, você está conhecendo aquela parte do meu cérebro que atua obedecendo o fluxo das ideias, captando o que surge quando não há compromisso com o resultado, apenas com a vontade de criar e de dar vida a uma folha em branco.
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Um pouco dos assuntos e pensamentos que se passam nessa caixola, sob a perspectiva de uma escritora muito boa em aleatoriedade.