Procurando um novo livro pra começar a ler, vira e mexe me pego com a ideia de encontrar uma história que mexa comigo assim como aconteceu quando li A Bailarina de Auschwitz, em 2021.
Eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre esse livro. Ele me trouxe inúmeros insights e sentimentos, me fez mudar de ideia sobre coisas que eu tinha como certezas. Me fez refletir sobre um julgamento que sempre carreguei — e perceber o quão egoísta ele era.
Pelo nome, já dá pra imaginar que a história é de uma sobrevivente do Holocausto. Sim, ela é dura, intensa e cheia de momentos difíceis. Mas o que mais me tocou foi a visão de Edith Eger sobre o que aconteceu depois.
O que fazer quando a tragédia passa, mas a dor fica? Como seguir em frente quando o corpo está livre, mas a mente continua presa?
Ela não escreve apenas como sobrevivente, mas como alguém que, décadas depois, tornou-se psicóloga e dedicou a vida a entender a própria dor.
Pra não me perder na imensidão de sentimentos que essa obra traz, escolhi esse trecho do livro pra desenrolar um pensamento com você:
“Eu ainda não tinha percebido que meu silêncio e meu desejo de aceitação, ambos baseados no medo, eram maneiras de fugir de mim mesma. Nem que, ao escolher não enfrentar diretamente a mim ou ao passado, eu ainda escolhia não ser livre, mesmo décadas depois de meu encarceramento. Eu tinha um segredo que me aprisionava”.
Você tem algum silêncio que grita dentro de você? Sente medo de relembrar determinados acontecimentos e prefere nem pensar neles para não ter que lidar com essa dor novamente?
Durante anos, Edith Eger tentou apagar as lembranças. O que ela viveu era doloroso demais para ser revisitado, então a saída mais fácil foi se convencer de que aquilo não existia. Mas a dor não obedece a lógica do esquecimento.
O silêncio não resolve. Só adia. E, às vezes, adia tanto que, quando nos damos conta, já se passaram anos carregando um peso invisível.
Edith nos ensina que evitar a dor não nos protege. Pelo contrário, nos prende.
Negar nossos medos e dores é negar a nossa própria evolução.
Não precisamos ter sobrevivido a um campo de concentração para entender essa verdade. Todos nós, de alguma forma, carregamos silêncios que nos pesam. Algumas coisas doem tanto que preferimos fingir que não estão ali. Mas ignorar não cura.
A questão é: será que estamos adiando uma dor que, lá no fundo, já sabemos que precisamos enfrentar?
Talvez a verdadeira liberdade esteja justamente em abrir espaço para essas dores virem à tona. Encará-las, entendê-las, lidar com elas.
Porque fugir pode parecer mais fácil no momento. Mas, no fim, a coragem de encarar o que dói é o que realmente nos liberta.
Cartas semanais sobre temas do cotidiano e uma oportunidades de conhecer um ponto de vista para agregar ao seu conhecimento.
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